Lembrando do meu pai…

Quando meus pais se casaram  moravam no sitio, em um lugar bonito, meu pai e meus tios construirão uma casa de quatro comados grandes, casa de pau a pique, coberta de sapé. Os moveis de cada comodo foram feitos cuidadosamente por papai. Na cozinha o fogão de lenha, uma mesa grande feita em três taboas largas, pés em madeira tudo talhado por ele, naquela época as madeiras eram tiradas das grandes árvores no matão do vovô, assim era chamada a grande mata do sitio do vovô Euclides, no caso sogro e tio de papai, pois mamãe e papai são primos.

Havia naquela cozinha uma prateleira feita em taboas largas, era onde se guardava as panelas, copos tudo que hoje se guarda  em armários. Ao pé da janela ficava uma pequena mesa compridinha, bem perto do fogão, nela se colocava a os potes de barro com água para uso diário e a lata de banha de porco usada para cozinhar,a qual mamãe mantinha coberta com um pano de saco de farinha muito branco, mantinha as pontas amarrada para proteger, embaixo desta mesinha se guardava latas e sacas de mantimentos, cestas de ovos ou frutas.

Interessante que os moveis eram todos pintados em azul cobalto, cor que papai gostava muito,Também havia um tampeiro,  um suporte para tampas, era um pano braco de saco bordado, esticadinho numa parede, onde de um lado ao outro havia um arame esticado para se colocava as tampas das panelas, as quais as donas de casa exibiam nas, bem brilhantes. Nesta época diziam os mais velhos, que se conhecia uma boa dona de casa pelo brilho das panelas.

Era  tudo muito simples, mais de uma beleza rustica, onde se via muito carinho, bem ornamentado com os crochês e bordados da mamãe, os sacos de farinha ou de fuba eram brancos e as mulheres utilizavam de varias maneiras artesanais.

No quarto do casal, uma cama confeccionada também por papai, coxão de palha, aquele que tinha que fofar antes de estender os lençóis, travesseiros feitos de paina da paineira antiga ali perto no pasto, outros de macela flores cheirosa colhida de um cipo medicamentoso. Aos pés da cama,  mamãe ornamentava com uma grande mala  de madeira coberta por papeis floridos em tons castanhos, segura com fitas prateadas, fechaduras, uma em cada lado e ao meio onde se chaveava. Esta mala mamãe trouxe cheia de enxovais bordado por ela, crochês, tricos feitos pelas avozinhas. A sala era composta por uma mesa grande quadrada e quatro cadeira comprada, eram envernizadas no canto direito da sala peto da porta do outro quarto, havia uma cantoneira, mesa alta talhada em madeira com treliças e entalhes feita pelo avô Augusto, apelidado de Gustinho.

Estas cantoneiras eram usadas nas casas para colocar uma talha com água para visitas, ficava na sala, para manter a água mais fresquinha, já que na época não havia geladeira nem na cidade ainda.

Meu pai foi o primeiro no bairro a ter um rádio, e no lugar da talha ficou o rádio, a noite a sala se enchia de parente e amigos para ouvir reportagem, programas  caipiras como diziam e outros. Nesta época as musicas raiz era a força nos circos e nas radio.

Meu pai e meus tios todos tocavam viola e violão e cantavam em duplas, era época de muito sucesso de Pedro Bento e Zé da Estrada, Tonico e Tinoco, Lio e Léu, Cascatinha e Nhana, minha mãe tinha a vós da Nhana, também com meu pai faziam uma dupla afinadíssima.

Nesta sala meu pai cortava cabelos de homens de mulheres e crianças, fazia barba dos senhores de idade e outros, havia fila  de espera, o violão e a viola ficavam pendurados na parede, para não ser danificadas por arranhões ou crianças, muitos que ali esperavam a sua vez, pontilhavam o violão, a viola e cantavam. No sitio e nos interiores, quase todos sabiam tocar e cantar.

Em casa era uma festa os fins de semana, papai era tão agradável que muitos apareciam somente para boas conversas.

Nesta época em que todos da família trabalhavam na plantação, meu pai era polivalente, alem de barbeiro aos sábados e domingos com muitos clientes. fazia também madeiramento de casa, usava as varinhas de radiestesia, ensinado pelos antigos para achar as veias de água , assim eram abertos os poços de águas puras.

Ele sabia fazer pontes, marcenaria em geral, profissão que havia aprendido com seu avo Augusto, qual era um  dos  melhores marceneiro do lugar. Papai  sabia fazer de tudo um pouco, ate doma de cavalos. Nos momentos de lazer era um excelente jogador de futebol de várgea.

Mais hoje quero contar uma historia acontecida com ele. Contava ele que uma vez estava furando um poço para uma tia avo dele, quando já estava bem fundo, quase dando água, como eles dizem, ele encontrou um minério, uma pedra supostamente de diamante, em formato de uma espada de mais ou menos dez centímetros, ele ficou admirado com tamanha beleza daquela espadinha em pedra brilhante de um azulado encantador.

Subiu a superfície e mostrou a senhorinha, lavou a  pedra para dentro da casa e deu de presente a ela, não havia mais ninguém com eles, o ajudante que era  um rapaz muito simples, quando papai mostrou a pedra, a sua tia, que trouxe gaudada no bolço enquanto trabalhava.

Naquele momento já ao cair da tarde,o rapaz já havia ido para casa não muito distante dali, este nada sabia da pedra meu pai não mostrou a ele, guardou no bolso já pensando em dar de presente a sua querida tia avó chamada Placidia..

Depois do jantar a luz de lamparina, botaram a pedra em cima da mesa e viram que a mesma brilhava em azulado como se tivesse luz própria contava papai, que conforme a claridade da luz, fazia reflexo de grande brilho na parede. Acharam belo aquele mineral e comentaram da grandeza de Deus em fazer tamanha beleza nas profundezas da terra, não sabiam de valores e nem do que se tratava, eram pessoas do sertão, viviam com a natureza sem muitas informações.

Depois cuidadosamente a tia colocou a pedra envolvida em um lenço, guardou-a no fundo de um baú, onde ficava as roupas de inverno.

No outro dia chegou para ajudar na abertura do poço, o tio José, irmão de papai. Contaram a ele o acontecido, curioso pediu que a tia mostrasse a  pedra em forma de espadinha a ele.

A tia muito simples e muito querida foi buscar e achou o lenço enroladinho como ela deixara, mais a pedra como por encanto desaparecera. Eles procuraram como agulha no palheiro, mais nada nunca mais souberam da pedra. Tinham certeza que na casa ninguém entrou nem saio, era num lugar distante de vizinhos, e papai havia pernoitado lá, como vinha fazendo por morar distante.

Esta historia ficou contada como uma pedra encantada porque todos, acreditavam que minérios tem suas magias, seus mistérios e que mudam de lugar conforme as mudanças das luas ou das estações, tinha varias historias acontecida na família e outros de coisas encantadas da natureza, que já contavam de gerações em gerações.Diziam também que se mergulhasse em sal as pedras perderiam o encanto.

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